Platão escreveu que o excesso
normalmente produz reação na direção oposta à pretendida, Confúcio ensinava que
o excesso enfraquece e Voltaire aconselhava: use, mas não abuse. Cada um desses
grandes pensadores, ao seu modo e tempo, concordava que o excesso praticado
pelo homem, cedo ou tarde, redundaria em algum tipo de efeito colateral lesivo
ao patrimônio físico, moral ou material do mesmo.
Nesse sentido, notório que
nos últimos 20 anos Goiás se consolidou como o mais exagerado - ou como alguns
preferem dizer, agressivo - estado da federação em termos de concessões de
benefícios e incentivos fiscais, circunstância que fez com que sua renúncia de
receita chegasse a R$ 8 bilhões ao ano, sendo R$ 5,67 bilhões somente em ICMS, que
representa 35% de tudo que que se arrecada desse imposto no estado.
O preocupante diagnóstico
das contas públicas do estado é um dos efeitos colaterais que a exagerada
renúncia fiscal praticada ajudou a consolidar. Ante tal quadro, a pasta da
Economia sinalizou que o volume dos benefícios e incentivos serão revistos e enquanto
isso não ocorrer a ordem da equipe econômica é congelar a renúncia fiscal nos
atuais R$ 8 bilhões, ou seja, para cada real de nova renúncia concedida, outro
terá que ser diminuído dos que já existem.
Porém, outro efeito
colateral começa a se manifestar, prenunciando outro duro golpe contra a nossa
economia por parte de um vizinho. O Distrito Federal está convencendo empresas
instaladas ou com intenção de se instalarem em Goiás a se mudarem para Brasília,
em troca de favores fiscais mais vantajosos.
Opa, espera aí! Se a nossa
política de renúncia fiscal é a mais agressiva, por que então o DF tem se
mostrado mais atrativo que Goiás?
A principal razão é que ele seguiu os conselhos
de Voltaire, usando, sem abusar.
Verdade que a falta de abuso
não decorreu simplesmente de uma livre opção. O DF sempre tentou imitar Goiás na
criatividade e no volume de sua renúncia fiscal, porém, sempre encontrou a combativa
resistência do Ministério Público do Distrito Federal, que questionava toda
criação de renúncia de ICMS sem a chancela do Confaz ou em desacordo com
a lei de responsabilidade fiscal.
O ex-senador pelo DF, Hélio
José, chegou a justificar no final de 2017 que era favorável à convalidação
dos benefícios fiscais por que o MP/DF não deixava passar nada, enquanto no Estado de Goiás ocorria justamente o contrário. Dois ex-governadores candangos e pelo
menos uma dúzia de seus ex-secretários respondem ou responderam a processos por improbidade devido a instituição de favores fiscais em desacordo com a legislação.
Já em Goiás, somente agora, 20 anos depois, surgem as primeiras ações nesse
sentido.
Assim, com uma renúncia de ICMS
de apenas R$ 1,3 bilhão, cinco vezes menor que Goiás, somado ao fato de depender muito menos da arrecadação desse imposto do que os goianos, faz com que o DF
tenha hoje uma margem considerável para negociar benefícios e incentivos. Para
se ter uma ideia, caso Brasília resolva dobrar o volume de sua renúncia fiscal,
não chegará à metade da renúncia praticada em Goiás.
E o MP/DF, parou de combater
os benefícios fiscais? Não, ficou de mãos atadas. Esse é outro importante
efeito colateral que Goiás provocou com sua agressividade na concessão de benesses
fiscais, abrindo as portas para que tanto o DF, quanto o MS e MT se apresentem
para a guerra fiscal tão agressivos quanto nós, goianos, só que agora sem violação
da lei.
A convalidação de benefícios
fiscais irregulares pelo Confaz trouxe consigo a polêmica “regra da cola”, permitindo
que favores fiscais convalidados sejam estendidos a outros estados da mesma
região, ou seja, permite que as mesmas armas utilizadas por Goiás na guerra
fiscal, antes tidas como ilegais, possam agora ser usadas legalmente por nossos vizinhos
do centro oeste.
Já Goiás, por possuir o mais
poderoso e sortido arsenal de benefícios e incentivos fiscais, não tem de quem
colar!
Apesar da paridade de armas,
a situação é desoladora para Goiás, pois já não possui munição
suficiente para a possível guerra fiscal que se avizinha, que foram fartamente desperdiçadas
durante os 20 anos que antecederam nossa pirrônica posição de campeão em
renúncia do ICMS.
Doutra banda, o fato de usar sem abusar da respectiva renúncia, tornou nossos vizinhos melhor preparados para um provável confronto, pois, além de razoavelmente municiados, agora podem atacar ou revidar
com benefícios e incentivos de grosso calibre, que até pouco tempo somente Goiás possuía.
Que tenham piedade então!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela manifestação!