Apostando todas
as fichas que tem (ou tinha) no socorro federal para recuperar o equilíbrio
fiscal de Goiás, a Secretária da Economia, Cristiane Schmidt, não demonstra
maiores sinais de preocupação com as outras atribuições da pasta da Economia.
O raciocínio da
equipe importada e montada por Schmidt é de que não estão convencidos que o auditor-fiscal influi na arrecadação, e mesmo considerando um rápido e importante incremento na receita
tributária, isso não resolveria o déficit fiscal de Goiás a curto/médio prazo.
Tais conclusões
foram o suficiente para que o carro-chefe da Economia tivesse sua prioridade e
importância relegadas.
Com esse deturpado
conceito de administração tributária o fisco goiano assistiu o esvaziamento de sua T.I. especializada. Também teve que lutar ferozmente para não perder o controle
do sigilo fiscal e da cobrança administrativa tributária.
A Receita ainda suporta a duras penas a cogente necessidade de recomposição de seus quadros, cuja defasagem somada
a crescente necessidade de deslocar auditores para serviços internos da pasta acabou
diminuindo consideravelmente o número de fiscais que labutavam na atividade
fim fazendária.
Com o moral
baixo e tendo que lidar com constantes ataques de outros órgãos, secretarias e categorias que almejam capturar atribuições e competências fazendárias que a própria titular da pasta não demonstra interesse em preservar, o fisco ainda assim manteve nesses últimos 15 meses uma arrecadação crescente.
Entretanto, o
descaso com a Receita Estadual começa a demonstrar seus estragos.
Comparando os
primeiros trimestres de 2018 a 2020, o número de autuações lavradas pelo fisco
estadual caiu de 7.375 autos para 4.832, uma queda na ordem de 34,5%.
Esses números
se referem apenas as autuações lavradas de forma presencial por
auditores-fiscais, excluídos aqueles lançamentos automáticos efetuados por
rotinas de T.I., como no caso do IPVA e do ICMS declarado e não recolhido, o que é uma outra excrescência fiscal que coloca em xeque a seriedade desses lançamentos “biônicos”.
Em valores, a
queda das ações fiscais promovidas pelo fisco é ainda mais expressiva. No primeiro trimestre de 2018 esses autos representaram mais de R$ 1 bilhão em sonegação fiscal
identificada e autuada. Já no mesmo período de 2020 as autuações alcançaram apenas R$ 555 milhões, uma queda de 46%, que considerada a inflação ultrapassa os 50%.
Os valores globais recuperados por meio de ações fiscais promovidas pelo fisco estadual
representam perto de R$ 1 bilhão ao ano de ingresso efetivo nos cofres púbicos, algo
em torno de 5% de toda a arrecadação tributária, orçada em cerca de R$ 20
bilhões anuais. Assim, com a tendência de 50% na queda de autuações fiscais serão R$ 500 milhões a menos nos cofres do estado.
Todavia, a
perspectiva de prejuízos é muito maior, uma vez que a função principal do fisco
não é a cobrança de tributos, e sim a de manter convicto o respectivo
contribuinte do seu dever de cumprir, a tempo e a termo, com suas obrigações
fiscais.
São as rotinas
executadas pelo fisco no controle de obrigações fiscais principais e acessórias
de seus contribuintes que desencorajam a sonegação e incentivam o recolhimento
espontâneo dos tributos devidos. Com a diminuição das ações fiscais a
espontaneidade tende naturalmente a minguar.
Uma vez
diminuída, a recuperação da percepção de risco perdida pelo contribuinte é
lenta e trabalhosa.
Manter em bom nível a qualidade e a quantidade da ação fiscal é o bê-á-bá de qualquer administração tributária
que a atual gestão da Economia teima em ignorar. Prova recente disso foi a publicação
no final do mês passado (25) da I.N. 1.458/2020-GSF que, pasmem, suspendeu justamente
o lançamento do crédito tributário (auto de infração) por conta da pandemia do
Covid-19. (vide artigo sobre a IN 1458 aqui)
Não se têm
notícias de ato semelhante por parte de qualquer outra administração tributária
do planeta. Mas como já consignado, para a Secretária da Economia isso não
importa. O importante mesmo é o socorro federal, que, a propósito, deve
finalmente chegar com a aprovação pela Câmara dos Deputados ontem (13) de uma ajuda na ordem de R$ 89,6 bilhões para estados e municípios.
É importante
consignar que o socorro federal não ocorrerá em razão da insistência de Schmidt
junto ao seu alter ego, Ministro Paulo Guedes, mas por (des)graça do
Covid-19. Mesmo assim, com isso, a principal missão da secretária em Goiás estará terminada.
Infelizmente restará
a conta da pandemia para os goianos pagarem, agravada pelo efeito nefasto do lamentável
e gratuito descaso que vem sofrendo a Receita Estadual.
Vamos demorar um
pouco mais que o necessário para superar os estragos da pandemia, uma vez que a arrecadação tributária não aceita desaforos. Preparemo-nos.
O equilíbrio em nível de Brasil pode se dar por ajuste fiscal (Arrecadacao) ou monetário (Banco Central), já no regional pouco pode ser feito com o ajuste monetário, tem que se utilizar do quase único instrumento de equilíbrio dos Estados que é a arrecadação, a troca de instrumentos, do principal pelo acessório, pode causar sérios problemas.
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