Em janeiro de 2019, pela primeira vez, a despesa tomou o lugar da receita no coração da principal secretaria do Estado. Agora chamada de Economia, a prioridade da pasta passou a ser o Tesouro, área que os novos gestores da antiga Fazenda acreditam ser o carro-chefe que afastará Goiás da crise fiscal.
Isso, não tanto pela função do Tesouro de controlar despesas correntes, mas especialmente por essa área administrar o endividamento do Estado, assessorando o governo na contratação de novos empréstimos ao mesmo tempo em que busca meios de postergar dívidas antigas e outras obrigações financeiras que entendem inconvenientes.
Tudo bem, não fosse a fixação dos
gestores da Economia pelas atribuições do Tesouro, passionalidade que fez muito
mais que transmudar o papel de protagonista da Receita estadual para o de
coadjuvante, fez com que esse papel raramente exceda o de mero figurante.
Sucateamento da T.I. fazendária;
delegacias fiscais empurradas para locais e espaços inapropriados; CAT prestes
a ser espremido em ¼ (um quarto) de um dos blocos da sede da Economia
(regredimos aos anos 90); a comédia do open space; aceleração de aposentadorias
(já se foram 103 auditores, com mais 24 na fila), enquanto 118 aprovados no
último concurso aguardam ansiosamente pela nomeação.
São apenas alguns exemplos do apontado
descaso, justificado com a retórica econômica da retomada do “equilíbrio” fiscal.
Todavia, não tem existido equilíbrio na pasta da Economia, o que existe ali é uma prioridade.
Prioridade no singular, na perspectiva semântica da palavra, que não tem plural.
Diferentemente da economia
esperada, a consequência do tratamento desigual entre setores tão importantes da
máquina pública possui um custo, alto.
A notícia é de queda vertiginosa
das ações fiscais promovidas por auditores-fiscais nos últimos 12 meses. Uma
diminuição na presença fiscal maior que 50%. Na fiscalização de fronteiras e mercadorias
em trânsito noticia-se queda ainda maior, 70%.
Historicamente, entre 4% e 5%
da arrecadação tributária estadual tem origem em autos de infração lavrados
pelo fisco, rendendo ao erário cerca de R$ 1 bilhão ao ano. Confirmada a queda da
presença fiscal, se nada for feito, a redução da receita direta produzida por autos
lavrados pelo fisco pode chegar a R$ 250 milhões até o final do ano.
Porém, o maior prejuízo ao
erário com o enfraquecimento do fisco ocorre de forma indireta, uma vez que a diminuição
da atividade repressiva/punitiva do Estado - em qualquer área - conduz
fatalmente à diminuição da percepção de risco do administrado.
É empírico, a diminuição da
percepção do risco fiscal faz o nível de inadimplência crescer dentre o grupo
de bons contribuintes e o nível de sonegação disparar no grupo dos maus
contribuintes. Para piorar, a redução dessa percepção ocorre a curto e médio
prazo, enquanto sua recuperação é lenta e sofrida.
Assim, o encolhimento da presença
do fisco não corrói somente os cerca de 5% que as autuações fiscais representam
no total da arrecadação estadual, corrói também os outros 95% da receita
tributária (cerca de R$ 20 bilhões), oriunda da espontaneidade do contribuinte.
Não encontrando mais espaço na
pasta da Economia, cuja atual gestão não mostra interesse em flexionar sua
prioridade, é chegada a hora de a Receita estadual goiana buscar o abrigo que precisa
em uma pasta singular.
Uma nova secretaria ou autarquia integralmente dedicada à arrecadação, tributação, fiscalização, guarda de informações fiscais, contencioso e cobrança administrativa. Conduzida por expert na área nomeado e subordinado diretamente ao chefe do Executivo.
Dessa forma, receita e despesa pública
podem ser tratadas com a prioridade que cada uma realmente precisa, cada qual
em seu lugar.
A Receita estadual não só
merece como necessita muito dessa mudança, para o bem da arrecadação, para o
bem de Goiás.
Mais um excelente Artigo Cláudio! Parabéns
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