Nada mais fácil e confortável
que defender uma “agenda competitiva” envolvendo súplicas especiais para
concessão de benesses fiscais, que é razoavelmente justificada pela necessidade
de emprestar competitividade a nossas empresas para concorrerem com outras,
sediadas em outros estados. Afinal, competitividade é circunstância que só agrega,
certo?
Errado, pois isso não é
competição, é guerra! Defender a competição entre empresas por meio de um
sistema fiscal-tributário mais favorável, com raras exceções, dissimula um
elaborado plano para concentrar ainda mais riqueza no andar de cima.
Ser empresarialmente
competitivo por conta de subsídios fiscais é o mesmo que construir o próprio
telhado (privado) com telhas retiradas de casas vizinhas (público). As telhas vão
fazer falta cedo ou tarde, e isso provavelmente vai ser percebido no pior
momento possível.

A mensagem de O’Neill é
corroborada por estudos realizados por respeitados organismos nacionais e
internacionais, como o brasileiro Centro de Liderança Pública e o suíço Fórum
Econômico Mundial, que, respectivamente, são os idealizadores do ranking da
competitividade dos estados brasileiros e das maiores economias do mundo.
O Fórum Econômico Mundial, por
exemplo, produz seu índice de competitividade anualmente para 144 países,
baseando-se em 12 "pilares" da competitividade, são eles:
instituições, infraestrutura, tecnologia, estabilidade macroeconômica, saúde,
educação, trabalho, mercado de produtos, sistema financeiro, dinâmica
empresarial e inovação. Esses pilares se desdobram em 98 indicadores.
Chama atenção um pilar em particular, o de “mercado de produtos”, que curiosamente possui um indicador que mensura o grau de distorção concorrencial causado por subsídios e benefícios fiscais. Quanto maior a incidência de subsídios, menor a nota nesse indicador.
Em 2018 o Brasil ficou em 72°
lugar no ranking geral da competitividade do Fórum Econômico Mundial, e na 132ª
posição no indicador de distorções por subsídios fiscais.

O fraco desempenho brasileiro no ranking do Fórum Econômico Mundial surpreende ainda mais quando se constata que o país ocupa a 10ª posição no pilar “tamanho do mercado” e a 8ª colocação quando o indicador trata do respectivo PIB.
Porém, existe uma explicação
lógica para a pífia posição da grandiosa economia brasileira no ranking da
competitividade: as telhas retiradas das casas vizinhas fizeram falta.
A maioria dos pilares que
compõem o ranking dependem fortemente de investimento público (telhas), que
foram desviados para atender o interesse de poucos, porém poderosos, nichos
empresariais.
Para empreender com qualidade
e segurança, além de capital próprio e know-how suficiente para iniciar o negócio,
é necessário que o estado proporcione ao empreendedor um ambiente
economicamente previsível e estável, dispondo de uma força de trabalho saudável
e instruída, oferecendo ainda uma infraestrutura razoável. É essa, e tão somente essa, a
parte que cabe ao estado investir no fomento da competitividade.
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Clique para acessar o ranking |
Embora a competitividade possa
ser artificialmente aumentada através da política de renúncia fiscal, trata-se
de uma escolha com efeitos efêmeros, que resolve um problema a curto prazo,
porém, cria diversos outros a médio e longo prazo. Uma hora as telhas farão falta, lembram-se?
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Clique para acessar o ranking |
A verdadeira competitividade é
aquela que oferece a concreta possibilidade de crescimento econômico
sustentável e inclusivo, possibilitando que toda a sociedade (repito: toda a
sociedade!) se beneficie dos frutos desse crescimento.
A posição do Brasil no ranking
da competitividade mundial demonstra claramente que estamos seguindo o caminho
errado.
Tomaremos o rumo correto quando
começarmos a impedir que nossas telhas sejam desviadas para cobrir o telhado vizinho.
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,forum-dos-leitores,70002874799

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